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sábado, 9 de março de 2013

Carta renúncia de diretor retrata o descaso com a educação em Alagoas

Escola Estadual Dr. Carlos Gomes de Barros
CARTA DE RENÚNCIA DO CARGO DE DIRETOR GERAL.


União dos Palmares, 17 de dezembro de 2012.
Prezada Senhora
Rosário de Lourdes de Almeida Sarmento
Coordenadora de Ensino da 7ª CRE – União dos Palmares / AL.
Prezada Comunidade Escolar da Escola Estadual Dr. Calos Gomes de Barros.

Como sabemos, a palavra “Democracia” significa, de acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2003): governo do povo; soberania popular. Doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e na distribuição equitativa do poder”.
Também é de nosso conhecimento, que há pouco mais de uma década foi implantado nas escolas públicas estaduais de Alagoas o processo de gestão participativa, a eleição para gestores escolares, através do voto dos membros da comunidade escolar.
O que no primeiro momento parecia uma grande solução aos diversos problemas e entraves ao sistema educacional, logo se mostrou um grande desafio a comunidade escolar que se apresentava despreparada para assumir tal responsabilidade, sem conhecimento prático e teórico de gestão em sua forma técnica-profissional e participativa.

Nem sempre as decisões são tomadas a partir de uma analise conjuntural coerente, há momentos em que as escolhas são feitas baseadas em interesses pessoais e analises superficiais. Os objetivos particulares, distintos geram conflitos e provocaram afastamento entre as pessoas. Além do mais, algumas confundem a democracia com omissão ou obrigação de agradar a todos, buscando atender a apelos pessoais. Essa postura entra em desacordo com os princípios da administração pública e prejudica o desenvolvimento do trabalho educacional.

Na maioria das vezes o motivo que leva ao desvio de conduta na “gestão democrática” é a priorização de interesses individuais em detrimento do objetivo coletivo institucional. Ficando por último a atitude profissional e a intenção de contribuir para uma escola de qualidade.

Infelizmente, em nossa Escola não tem sido tão diferente, no ano de 2009, após vários atritos entre os próprios gestores e pequenos grupos desarticuladores, os Diretores apresentaram o pedido de dispensa. Perante tal situação a Coordenadoria Regional de Ensino enviou três interventores, (um forte golpe na democracia), para um período de um ano e meio, até harmonizarem-se as relações. Mesmo após este longo período de intervenção e as coisas terem se acalmado, no primeiro momento não apareceram pretendentes ao novo pleito democrático do ano de 2010, muitos tinham vontade, mas todos tinham receio, o clima era tão desconfortável que não existia em toda Escola quem se dispusesse a assumir a gestão, pois a história os desestimulava. Passou-se o período estabelecido para inscrição das chapas sem que ninguém se manifestasse, até que a então interventora Tânia Cristina, convidou os professores Moisés Sávio e Luciene Barros a fazerem uma profunda reflexão do contexto administrativo e pedagógico da Escola. Pesamos nos prós e contras e decidimos enfrentar o desafio apresentando nossos nomes para o pleito, dias depois apareceu outro grupo, o que se configurou realmente um pleito democrático. Enfrentamos esse primeiro desafio com muita certeza do que queríamos e clareza de nossas propostas para esta comunidade. Vencemos com o percentual de 84 % dos votos validos. Não posso deixa de exaltar e expressar a minha gratidão a maioria dos colegas servidores pelo seu compromisso e dedicação e a esta Escola.

Entusiasmados com o restado das eleições, formamos uma equipe (diretores – coordenadoras) que acreditávamos ser a melhor para nos ajudar a por em prática a proposta aprovada pela comunidade, infelizmente nossa expectativa não se materializou. E a fim de contribuir com mais eficiência na gestão me matriculei num curso de especialização em “Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica”, o qual financiei com recursos próprios.

Logo nos primeiros meses da gestão a diretora adjunta Luciene renunciou por motivos estritamente pessoais e consideráveis. Já a diretora geral entregou sua carta de renuncia um ano depois do pleito, a fim de preservar a si a acriança que carregava em seu ventre, pois as pressões sofridas por ela ponham em risco seu estado de gravidez. Com a sua saída à crise se aprofundou, devido às divergências de opiniões, falta de comunicação, disputas internas... Os gestores que substituíram as renunciantes logo entraram nesse ritmo danoso.
Somado a tudo isso temos a falta de estrutura material e de pessoal, o que não é privilégio desta Escola. Cito:

- número insuficiente de funcionário, perante o público atendido e a dimensão física da Escola;
- recursos financeiros inferiores a demanda pedagógica, administrativa e a manutenção cotidiana;
- insegurança - estamos a todo memento pondo nossa integridade moral e física em risco, pois, tornou-se comum o desrespeito aos servidores, e até mesmo com ameaças de morte. O que já foi comunicado oficialmente ao 2ª BPM, a Polícia Civil, ao MP, a 7ª CRE e a SEE/AL e até o momento nada foi feito.
- a reforma, que tanto lutamos para que acontecesse, tornou-se um tormento diário, pelo seu término incerto, o que estava prevista para abril deste ano. Por esse motivo, a conclusão do ano letivo 2011 foi conturbada e o início do ano letivo 2012 adiado. Inúmeros foram os oficio relatando a situação, mas até o momento não recebemos uma resposta se quer.

Tal situação lamentável tem sobrecarregado os gestores, impossibilitado a implicação efetiva da gestão integrada da escola (GIDE) de forma mais eficaz, conforme consta em ata. Sem dúvida, o maior prejuízo estar para o processo de ensino e aprendizagem, em especial ao cidadão que acreditando nesta instituição de ensino fez sua matrícula esperando elevar seu nível intelectual.
É certo que, sou consciências de minhas limitações humanas e profissionais, como também tenho certeza de minhas qualidades, qualificações e boa vontade de contribuir para construção de uma sociedade mais justa, qualificada e livre que tem na escola o principal espaço de resistência.
Continuo na luta em minha sala, junto aos meus alunos, não desisti nem me acovardei só não dar para lutar sozinho numa frente de batalha insalubre, tenho que me resguardar, em especial agora que Deus me deu uma bela filhinha e uma esposa maravilha que amo e necessitam de mim.

Perante o exposto, comunico e ratifico a minha renúncia ao cargo de Diretor Geral desta unidade de ensino, que ocupo desde a nomeação em diário oficial em fevereiro de 2011, através do último pleito eleitoral para gestores em 20 de janeiro de 2011 com validade até o próximo pleito.
Sem mais para o momento, subscrevo-me.
Atenciosamente,

Moisés Sávio de Vasconcelos
Matrícula: 9.866.321-6
Portaria/SEE nº 234/2012.
Diretor Geral da Escola Estadual Dr. Carlos Gomes de Barros.

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