“Liberdade é a liberdade de
dizer que dois mais dois é quatro.”
(George Orwell, 1984)
Opor. Uma palavra simples, de quatro letras comuns, carrega,
em si mesma, um conjunto extremamente amplo de significados. Se a maioria das
pessoas tivesse que expressá-los, teríamos respostas associadas a negativas,
objeções, impedimentos. Não passa na cabeça, de primeira impressão uma imagem
propositiva. Nossa imagem da oposição surge da ideia que acumulamos de oposição
durante nossas experiências, e ela é diminuta.
Nossa oposição é conjuntural, não substancial. A alternativa
política que nos apresentam é, costumeiramente, a contraposição de grupos
interessados no poder, e não um embate de pensamentos diferentes. No Brasil, se
luta pelo poder, não pelo modo como se vai utilizá-lo, que é o mesmo em todos
os casos. Salve-se daí algumas boas exceções, que nos lembram que a oposição é
muito mais do que fazer birra hoje para fazer a mesma coisa amanhã.
A oposição é um presente da democracia. Permitir que alguém
se contraponha e aponte um outro caminho para as políticas públicas é
fundamental para a pluralidade de opinião. E ela é boa. Permitir ideias
diferentes de uma sociedade significa vigiar para que nunca se atinja o
autoritarismo uniforme. Por mais simples ou idiota que uma ideia pareça, ela
tem de ter o direito inalienável de ser dita. E a oposição, nada mais é do que
essa ideia contrária em enunciação; a liberdade viva em ato.
A oposição, enquanto conceito político propositor de mudanças
e ideologias é totalmente positiva porque permite discutir novos rumos que
podem ser melhores para o organismo público em questão. A oposição enquanto
fiscalizadora do estabelichment – vista por muitos como entrave as ações
estruturais – é também positiva, uma vez que permite, através da cobrança
consciente, que o poder constituído melhore suas ações: o que é bom para a
sociedade.
Nem a oposição deve ser imposta. Gestores dos mais diversos
níveis e âmbitos precisam compreender que democracia é muito mais que se
predispor a um plebiscito popular quadrienalmente, mas permitir a crítica e a
contestação, e aceita-las. O gosto da pluralidade precisa ser tomado como doce,
e não como amargo; porque mesmo quando ele é uma força motriz capaz de
destroçar o aparato institucional, ele não está provando senão que este estava
deslocado.
E isso tudo só mostra que a maior beleza da oposição não é a
contestação pela contestação. Tampouco é o oportunismo de se fazer poder no
futuro. O que é mais belo na oposição é a possibilidade de se opor.
Por Paulo Veras
Fonte:
http://pjveras.blogspot.com.br/