Páginas

sábado, 16 de novembro de 2013

SUBINDO A SERRA DA BARRIGA

Lembranças do Passado

Por Joaquim Maria



A Serra da Barriga, para mim, sempre foi enigmática. Eu já visitava a serra desde quando, praticamente era inacessível o caminho até o platô. Nós fazíamos o percurso a pé. Saíamos logo cedo do centro da cidade, passávamos pelo cercado da Fazenda Jurema, fazendo uma parada para descanso em um açude na localidade denominada de Laranjal.

Ali ficávamos por algum tempo nos refrescando naquela água negra e fria. Depois da pausa e de um rápido lanche, era hora de arrumar as mochilas e seguir rumo a cume da serra. No caminho, muitos espinhos e bichos peçonhentos, além dos bois que pastavam e que de vez em quando, partia pra cima da gente, nos obrigando a correr e atravessar a cerca, em busca de proteção.  Esse trajeto é mais curto do que o atual, mas era uma trilha e não tinha tráfego de automóveis.

Essas nossas caminhadas a serra tinha mais um efeito ecológico do que histórico/cultural porque naquela época, a história do Quilombo ainda não era bem difundida e essas manifestações culturais e as peregrinações como as que existem hoje, praticamente não havia.

A subida era cansativa, mas excitante. Mais satisfeitos ficávamos quando alcançávamos o platô; onde hoje se concentram as manifestações e rituais em homenagem ao Rei Zumbi.  A vista era exuberante e a localização estratégica.

Ainda tinha tempo de nos refrescar na “Lagoa Sagrada”, onde por um instante, a turma mergulhava literalmente, na história do Quilombo dos Palmares. Neste momento, todos nós ficávamos imaginando como teria sido viver aquela maneira. Livres mas aprisionados no seu pequeno território. As nossas mentes viajavam em busca de respostas para o tão monstruoso massacre da comunidade negra daquela região.

Outro fato importante era o estado ainda bruto das matas. A serra estava bastante preservada. Os pássaros cantavam e revoavam por entre os galos das árvores centenárias. Era incontável a quantidade de sons e animais silvestres naquela área. Os sons vinham de todas as direções.  Até o vento produzia um som diferente fazendo as árvores gemerem; o que despertava a imaginação de alguns, que diziam que era o gemido dos negros em agonia.

Depois de algumas horas na lagoa, arrumávamos as mochilas novamente e atravessávamos todo o platô, descendo por uma trilha muito íngreme, saindo cerca de 1 KM,  antes da entrada do Posto de Informação atual, voltando pelo mesmo lugar e fazendo mais uma parada no açude para refrescar o nosso corpo,  dolorido e empoeirado.

A chegada à cidade era próximo ao escurecer, por isso, a dispersão do grupo, aos poucos ia acontecendo, porque depois de um dia cansativo, precisávamos de um bom banho, de uma refeição substancial, para repor as energias de uma longa e prazerosa caminhada nas trilhas do Quilombo dos Palmares.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

POR MEDIDA DE SEGURANÇA, NÃO ACEITAMOS COMETÁRIOS ANÔNIMOS.